Você não gosta de politica mas o Cunha gosta

Nos últimos tempos (há 517 anos aproximadamente. Risos), o brasileiro tem experimentado dissabores com a politica que levaram ao descrédito as instituições e alçaram aos holofotes os “justiceiros”.

É FATO que nosso contexto histórico não nos conduz ao respeito e a confiança nessas jovens, porém, já muito maculadas instituições. O primeiro presidente eleito (indiretamente), não militar foi logo ali, em 1985. E a nossa “democracia” que ao menor sinal de ventania se desestabiliza, tem apenas 29 aninhos. Como um país que foi colônia de exploração, o último país das Américas a abolir a escravidão, passou por rupturas democráticas, ditadura militar, vive sob a sombra de um medo irracional de um “comunismo bicho papão”, e ainda hoje, em 2017, 4 milhões de pessoas precisam fazer suas necessidades fisiológicas a céu aberto, a escolha de “salvadores da pátria, “heróis”, “Batman de Curitiba”, “apresentadores de TV canastrões” e outros, para nos representar, dizer o que pensamos, defender nossos direitos, não é tão bizarro.

Nós, povo brasileiro, nunca conquistamos nada por nós mesmo. É duro? É. A democracia foi nos dada e os golpistas anistiados. Em que outro país do mundo ditadores morreram de velhos sem jamais pagar por seus crimes? Estou sendo rancorosa? Pois digo que este tipo de atitude permite com que Jair Bolsonaro, vá ao parlamento homenagear o torturador de uma presidenta que estava passando por um processo de impeachment. E se você não acha que este comportamento é inadequando a um parlamentar, desumano e cruel, independente de você ser de direita, esquerda, do centro ou da fronteira, faça uma avaliação psiquiátrica.

Mas NÃO é FATO que precisamos aceitar esse destino. Não estamos destinados a permanecer colônia. Não é fato que não podemos evoluir e mudar. Não é fato que não somos capazes de melhorar. Em um país como o nosso, que por qualquer motivo, metem a mão na democracia e a jogam no chão, invertem as regras do jogo como e quando lhes convêm, aplicam estas regras de formas diferentes aos diferentes sujeitos, não podemos nos dar ao luxo de exercer e fortalecer a democracia nos pleitos eleitorais, a cada quatro anos. Temos que nos organizar e nos manter mobilizados, temos que participar dos conselhos municipais, estaduais e federais, dos sindicatos de sua categoria profissional, de grupos de discussão de politicas e projetos, temos que saber os que nossos eleitos estão fazendo e temos que nos filiar a partidos. Sim, temos. Comentei este assunto no twitter e muitas questões surgiram, sobre ele e sobre outras coisas que sempre me dizem por lá. Vamos a elas:

Mas nenhum partido presta, todos são sujos, meu partido é o Brasil”

Querido, caso você não tenha reparado, não só o partido “Brasil” não tem ganhado nenhuma eleição há 517 anos, como também tem sido continuamente sabotado e deixado para trás. Os partidos são feitos de pessoas, se as pessoas não são boas, troca-se as pessoas. É claro que há partidos com os quais não nos afinamos, por questões ideológicas (não se engane, não existe escolha que esteja desvinculada de uma ideologia, muito menos as suas isentão) mas ainda assim essas pessoas e esses partidos devem ser combatidos no campo das ideias e no jogo democrático. Esta sucessão de golpes não pode jamais ser alimentada em uma sociedade que se diz civilizada e democrática.

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Ah mas eu não gosto de politica. Não suporto essa discussão. Sou neutro”

Já disse Platão (ou pode ser a Clarice Lispector, não sei) “Não há nada de errado com aqueles que não gostam da politica , apenas que serão governado por aqueles que gostam demais”. Você não gosta e acaba legando seu direito cívico aquele cara que não tem nada a ver com você, que não acredita nas mesmas coisas que você, que tem valores e pensamentos que você abomina. Você se abstêm da oportunidade de escolher e a dá de presente ao Renan, ao Aécio, ao Cássio Lima, ao Magno Malta, que querido, não se iluda está pouco se coçando para você. E se abster não te torna menos responsável pelo que ocorre no país. Pelo contrário. Você não gosta de politica mas o Cunha gosta bastante.

Só tem ladrão na politica!”

Nesse caso temos de assumir que #SomosTodosLadrões , visto que, o politico é alguém que sai do seio da sociedade e é levado aos cargos públicos por você, pelo seu voto em uma eleição direta. Ele não é um alienígena, um intruso, alguém que arrombou a porta e entrou em cargos públicos (ah não ser o Temer). Uma dos pilares de uma democracia é a capacidade de se responsabilizar individual e coletivamente pelo resultado de nossas escolhas ou de nossas omissões.

A situação do Brasil atualmente é de inteira responsabilidade nossa, da direita e da esquerda. De todos nós. Alguns tem culpas mais vergonhosas do que outros, mas todos tem a sua parcela de culpa.

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Mentira petralha! A culpa é sua, votou na Dilma, votou no Temer”

Por falar em Temer, quem nunca ouviu um “votou na Dilma, votou no Temer”. Realmente, em todas as sociedades civilizadas com democracias maduras no mundo, se vota em uma chapa na expectativa de que o vice se junte a chapa derrotada, golpeie a chapa vencedora e implemente o plano de governo que foi rejeitado nas urnas. Claro. Todo lugar do mundo ocorre isso.

Alias, você não pode ser uma pessoa democrática e defender a democracia só quando “você ganha”. Ou você é a favor ou você é contra a democracia em qualquer situação. Portanto, se você apoiou um golpe porque o seu candidato perdeu nas eleições ou porque você não gosta do candidato que a maioria elegeu, você é golpista anti democracia. E se você também não votou no Temer para presidente por que cargas d’água você apoia um golpe dado por ele? E o pior como você pode se eximir da responsabilidade de tudo que você está vendo e lamentando? Para esta que vos escreve, o nome disso é desonestidade, no mínimo desonestidade intelectual. Você sabia no que ia dar, você tinha como saber.

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Mas todo mundo que entra na politica vira ladrão !”

Então vamos nos deitar todos no chão, de um quarto escuro, em posição fetal e morrer de inanição. Não tem jeito mesmo. Não somos capazes de evoluir e nem de construir um país melhor. Ou então optar pela anarquia total (já fui muito atraída por essa ideia, confesso. Risos). E se você acha que ninguém presta lá porque você não assume as rédias e participa? Ou porque você não incentiva que alguém que te representa e que presta concorra a um cargo público? Porque você vota sempre nos mesmos “nascidos políticos”? Aqueles que o tataravô era politico, o avô, o pai e a família toda. Um cara como Aécio por exemplo, que aos 19 anos já “estava na vida pública”. Esse cara nunca viveu uma vida comum, nunca bateu ponto, nunca passou por uma entrevista de emprego, nunca sentou tarde da noite e foi ver se o dinheiro dava para pagar todas as contas do mês. Porque você acha que esse cara te representa? Entende seus problemas? Dialoga com suas dores? Ou dá a mínima para você?

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Mas se eu me filiar a um partido eu vou ter que me candidatar?”

Claro que não! Você pode simplesmente pegar essas ideias e sugestões incríveis que você tem e levar para discussão no partido ao qual você se afina ideologicamente. Essas soluções para os problemas, que você dá no twitter, no Facebook, no seu blog, no bar com seus amigos e no almoço de domingo, que geralmente acaba em confusão, estão sendo desperdiçadas. E no lugar onde elas deveriam estar sendo discutidas tem um fanático religioso culpando satanás pela pobreza de parcela da sociedade, e não os desvios de verbas que impedem que politicas de redução da desigualdade social sejam implantadas para mudar a vida dessas pessoas. A única forma de renovar o cenário politico, retirar dele as velhas raposas empoeiradas que lá se encontram ad eternum é a força motriz, geradora de riquezas, que faz esse país acontecer é o trabalhador entrar!

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Nossa mas ter que ficar brigando pela consolidação da democracia em 2017? Na Europa funciona super bem!

Pois é amiguinho, mas você precisa se lembrar que qualquer porta de igreja que você passa na Europa tem no mínimo 1000 anos a mais que o nosso tão diverso Brasil. Que as pessoas, mesmo aquelas mais simples que não tem um índice de escolaridade tão alto, fazem tudo isso que é dito neste texto. Se interessam pelo que ocorre no país. E não só aquilo que lhes dizem respeito ou lhes afetam diretamente mas pensam coletivamente. Repito que o politico é o reflexo da sociedade. Sociedades em que as pessoas sonegam menos impostos, respeitam mais as leis (e não só quando a lei lhes convém), que são mais participativas e interessadas, politizadas e valorizam a educação tendem a ter políticos menos corruptos. Você está se reconhecendo quando olha para o congresso?

E mais quantas cabeças de reis e rainhas foram guilhotinadas para conseguir esta estabilidade democrática toda? Hoje graças a Deusa, não precisamos apelar para métodos medievais de restabelecimento da ordem social. O que precisamos é nos organizar, nos juntar, nos fazer representar, mostrar a nossa cara, nos mobilizar e fazer qualquer tipo de resistência as iniquidades que todos nós condenamos. Porque nós, meus amigos, só temos uns aos outros. E isso é muito. Isso é tudo que há! Seja resistência em tempo de tormenta e não as folhas que voam na ventania.

Vamos a luta?

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